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Biden marca cúpulas com líderes estrangeiros, e vozes republicanas já se colocam contra Trump

 


Presidente eleito conversa com pares asiáticos e anuncia chefe de Gabinete; aumentam vozes dissonantes dentro do Partido Republicano, que instam o presidente a reconhecer sua derrota

WASHINGTON — Cinco dias após Joe Biden ser confirmado como o novo presidente dos Estados Unidos , Donald Trump ainda não dá sinais de que pretende reconhecer a derrota, mas começam a surgir fissuras importantes entre os dirigentes republicanos, com parte deles se colocando contra a posição do presidente. Enquanto isso, o democrata leva em frente a transição, anunciando nomes de sua equipe e marcando cúpulas com líderes internacionais.

Mesmo sem as verbas destinadas para a transição, bloqueadas por Trump, sem os briefings diários de Inteligência a que tem direito como presidente eleito e sem acesso à infraestrutura do Departamento de Estado para conversar com outros chefes de governo, Biden o faz por meios próprios. Na quarta-feira, o presidente eleito recebeu telefonemas de Yoshihide Suga, premier do Japão; Moon Jae-in, presidente da Coreia do Sul; e Scott Morrison, premier australiano — alguns dos aliados mais próximos dos EUA e parceiros-chave no Pacífico.

Nas três ligações, buscou-se reforçar a aliança entre os países e o trabalho conjunto no âmbito ambiental, na resposta à pandemia da Covid-19 e na segurança — algo importante para o trio diante da crescente influência chinesa no Pacífico. Foram anunciados ainda planos para cúpulas com o Japão e com a Coreia do Sul para logo após a posse do democrata, em 20 de janeiro.  Desde sua vitória, o presidente eleito já conversou com líderes de diversos países aliados, como a França, o Canadá e o Reino Unido. Vladimir Putin e Xi Jinping, no entanto, ainda não parabenizaram o presidente eleito, assim como o presidente Jair Bolsonaro.

Na manhã desta quinta, Biden, que é católico, conversou com o Papa Francisco. Durante o telefonema, falaram sobre o cuidado com os pobres e marginalizados, a crise climática e a integração de imigrantes e refugiados. Em 2016, após a morte do filho do presidente eleito, Beau, o Pontífice o recebeu no Vaticano.

O democrata também anunciou que Ron Klain, um importante e experiente nome do Partido Democrata, será seu chefe de Gabinete. Ele é, há anos, um dos conselheiros mais próximos de Biden e foi seu chefe de Gabinete enquanto esteve na Vice-Presidência. Em 2014, o advogado foi responsável pela resposta da gestão de Barack Obama à crise do ebola. Segundo o New York Times, outros nomes da alta cúpula do novo governo só deverão ser divulgados mais para o final do mês.

Oposição interna

A cruzada judicial de Trump continua a ter apoio dentro do Partido Republicano, especialmente no Senado — até o momento, apenas quatro senadores da legenda parabenizaram Biden —, mas o número de lideranças do partido que instam o presidente a reconhecer sua derrota cresce. Juntaram-se aos críticos habituais, como os senadores Mitt Romney e Susan Collins, o governador de Ohio, Mike DeWine, e Karl Rove, importante operador partidário que atuou como conselheiro de campanha do presidente.

— Precisamos considerar o ex-vice-presidente como o presidente eleito Joe Biden — disse DeWine à CNN.

Ao menos uma dezena de senadores republicanos, entre eles Lindsey Graham, grande aliado de Trump, já sugeriram também que Biden tenha acesso aos briefings de Inteligência. Um deles, James Lankford, chegou a afirmar que poderia intervir pessoalmente caso isto não ocorra até sexta. Um dos maiores aliados de Trump, o presidente do Senado, Mitch McConnell, porém, se recusou a comentar o assunto.

Sem quaisquer evidências de irregularidade, a campanha de Trump abriu cruzada judicial e uma campanha de desinformação para pôr em xeque a lisura do pleito, no que alguns analistas chamaram de "golpe de Estado em formação". O Departamento de Justiça permitiu a abertura de inquéritos federais para investigar supostas irregularidades sobre as quais não há comprovação. Buscando apoio militar, Trump demitiu o ministro da Defesa, Mark Esper, e pôs aliados na cúpula do Pentágono e do setor de inteligência.

Suas tentativas de forçar recontagens nos estados-chave também são questionadas, já que a margem da vitória do democrata é considerada segura. Em um artigo no Wall Street Journal, Karl Rove reconheceu que é improvável que isso altere o resultado em qualquer estado "e, certamente, não será suficiente para mudar o resultado final".

Os democratas, por sua vez, demonstram impaciência com a posição republicana. Os líderes do partido no Senado e da Câmara, Chuck Schumer e Nancy Pelosi, criticaram quem se recusa a reconhecer a vitória de Biden:

— Isso não é nada mais que uma pirraça dos republicanos — disse Schumer, afirmando que integrantes do partido adversário estão “propositalmente pondo em xeque nossas eleições por nenhuma razão além do medo de Donald Trump”.

A atitude do presidente é  sem precedentes na História recente americana, sendo comparada por historiadores à decisão dos estados do Sul, escravagistas, de não aceitar a vitória de Abraham Lincoln em 1860, dando início à guerra civil.

— É uma das ameaças mais graves à democracia — disse ao New York Times Ryan Enos, cientista social de Harvard. — O resultado da eleição é evidente e, ainda assim, o incumbente está criando ambiguidade baseando-se em acusações sem provas.

De olho em 2024

Segundo o jornal Washington Post, Trump não pretenderia de fato reverter o resultado da eleição . Em privado, o presidente daria sinais de que não irá tentar se manter no poder a qualquer custo e de que pretenderia concorrer novamente em 2024. Os mais de 70 milhões de votos que obteve nas urnas e a adesão da alta cúpula republicana à sua retórica deixam evidente que sua influência no partido não cessará após a posse de Biden em janeiro. As alegações de fraude, mais que tudo, incendeiam a base, mantendo-a mobilizada, segundo especialistas.

Caso Trump não admita a derrota nos próximos dias, dois momentos-chave nas próximas semanas deixarão mais claro até onde o presidente pretende levar sua ofensiva.O primeiro deles é o prazo final para a certificação dos resultados pelos estados, 8 de dezembro, quando as 50 unidades da federação devem ter resolvido quaisquer disputas e designar seus delegados ao Colégio Eleitoral, que darão seus votos em 14 de dezembro. Se os republicanos ou a Casa Branca tentarem interferir neste processo, aponta Andrew Prokop, do site Vox, seria um sinal de agravamento do cenário.

Quem também demonstrou preocupação nesta quinta foram os Elders, grupo formado por ex-líderes mundiais. Em comunicado, afirmaram que a relutância de Trump em admitir a derrota demonstra desrespeito à integridade da democracia americana. O grupo fundado por Nelson Mandela é integrado por sua viúva, Graça Machel, a ex-presidente irlandesa  Mary Robinson e o ex-secretário-geral da ONU Ban Ki-moon, entre outros. O ex-presidente brasileiro Fernando Henrique Cardoso é membro  emérito, assim como o americano Jimmy Carter. 

Fonte o globo

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