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Com presença de Bolsonaro, Congresso promulga emenda que permite pacote social pré-eleitoral

 


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Texto autoriza 'estado de emergência' no país para contornar legislação e turbinar benefícios a três meses da eleição. Em ato incomum, presidente participou de sessão de promulgação da PEC.


 Congresso Nacional promulgou nesta quinta-feira (14) a emenda constitucional que autoriza um "estado de emergência" no país. A medida é uma forma de contornar a legislação e, assim, permitir ao governo a criação de uma série de benefícios às vésperas das eleições.

 emenda constitucional foi aprovada pelo Senado em junho e pela Câmara dos Deputados nesta semana.

 promulgação do texto foi feita em sessão solene do Congresso com as presenças dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG); da Câmara, Arthur Lira (PP-AL); e parlamentares. A promulgação foi publicada no "Diário Oficial da União (DOU)" na madrugada desta sexta-feira (15).

Em um ato incomum, o presidente Jair Bolsonaro, que vê na emenda a possibilidade de melhorar o desempenho nas pesquisas eleitorais, também compareceu ao Congresso para participar da promulgação – etapa necessária para a entrada em vigor do texto.

Também compareceram à sessão o presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministro Humberto Martins, e os ministros de estado: Adolfo Sachsida (Ministério de Minas e Energia do Brasil), Bruno Bianco (Advocacia-geral da União), José Carlos Oliveira (Trabalho e Previdência), Ciro Nogueira (Casa Civil), Augusto Heleno (Segurança Institucional) e Célio Faria (Secretaria de Governo).

Pronunciamentos

Durante discurso na sessão, Bolsonaro agradeceu ao parlamento pela aprovação de medidas de enfrentamento à crise econômica agravada pela pandemia da Covid-19 e pela guerra na Ucrânia. Entre outros pontos, a emenda promulgada aumenta de R$ 400 para R$ 600 o valor do Auxílio Brasil até o fim do ano.

Bolsonaro, que busca votos no eleitorado feminino, destacou que a maior parte dos beneficiários é composta por mulheres, "pessoas importantíssimas". "Nenhum homem pode sonhar em crescer na vida sem ter uma mulher na vida", afirmou.

O presidente disse ainda que o país está "voltando à normalidade pré-pandemia" e projetou uma redução da inflação para os próximos meses.

Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco disse que a gravidade da situação do país "demandava uma resposta rápida" do Legislativo, e destacou a rapidez na aprovação da emenda constitucional nas duas Casas.

"Não poderia o Congresso permanecer omisso diante de números tão desalentadores [da alta inflação e do aumento da pobreza]. E, com efeito, não permanecemos: apesar de tratarem-se de PECs – que, pela sua própria natureza e por prescrições constitucionais e regimentais, exigem uma apreciação mais longa e meticulosa pelo parlamento –, as matérias tramitaram com celeridade em ambas as Casas", afirmou o senador.

Objetivamos combater em diversas frentes os efeitos inflacionários suportados pelos brasileiros, seja aumentando diretamente a renda das parcelas mais vulneráveis e mais afetadas da população, seja reduzindo os custos atrelados ao preço dos combustíveis", acrescentou Pacheco.

Arthur Lira afirmou que o Congresso aprovou medidas para "mitigar a crise que se arrasta há mais de dois anos". E disse que a pandemia da Covid-19 "comprometeu saúde e renda".

"O Poder Legislativo permanece dando provas de que busca enfrentar desafios pelos quais passa a sociedade brasileira", declarou.

Pacote social

Entre outros pontos, a emenda aumenta o valor do Auxílio Brasil, amplia o Vale-Gás e cria um "voucher" para caminhoneiros e para taxistas (veja mais abaixo).

De acordo com o texto, todos os benefícios acabam em dezembro, segundo mês após a eleição.

O governo prevê começar os pagamentos em 9 de agosto. No entanto, segundo o Ministério da Economia, quatro dos sete benefícios previstos na emenda dependem de uma futura regulamentação, entre eles, os destinados a caminhoneiros e taxistas.

Já as ampliações do Auxílio Brasil e do Vale-Gás dependem somente da edição de medidas provisórias (MPs) para valerem.

Manobras

A aprovação da PEC no Congresso, em especial na Câmara dos Deputados, ocorreu em um rito expresso.

 O presidente da Câmara e apoiador de Jair Bolsonaro, Arthur Lira lançou mão de manobras regimentais e mudou regras para assegurar a presença de deputados na votação, entre elas, permitiu o registro remoto e que parlamentares em licença médica pudessem votar.

Lira também associou a PEC do pacote social à PEC dos biocombustíveis, que já estava em tramitação. Com isso, a PEC "Kamikaze" não precisou passar, por exemplo, pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara, responsável por examinar a constitucionalidade de todas as matérias a serem votados pelo plenário. Por isso, a manobra também abreviou o tempo de tramitação da proposta.

A PEC dos biocombustíveis incorpora na Constituição um dispositivo que garante uma diferença tributária entre combustíveis fósseis, como a gasolina, e os biocombustíveis, como o etanol.

Votos da oposição

Embora contrários ao artifício que autoriza o governo a decretar "estado de emergência" no país a fim de criar e pagar os benefícios a menos de três meses da eleição — o que em condições normais, a legislação proíbe — parlamentares de oposição votaram a favor da PEC.

Segundo os deputados, é necessário dar assistência à parcela mais pobre da população, atingida pela crise econômica que fez o Brasil voltar ao Mapa da Fome das Nações Unidas.

 

O que define a emenda

A emenda estabelece estado de emergência em 2022, em razão da "elevação extraordinária e imprevisível dos preços do petróleo, combustíveis e seus derivados e dos impactos sociais deles decorrentes".

O texto abre caminho para uma série de benefícios. Veja abaixo:

  • Auxílio Brasil: ampliação de R$ 400 para R$ 600 mensais e previsão e cadastro de 1,6 milhão de novas famílias no programa (custo estimado: R$ 26 bilhões). Depende da edição de MP;
  • Caminhoneiros autônomos: criação de um "voucher" de R$ 1 mil (custo estimado: R$ 5,4 bilhões). Ainda depende de regulamentação federal. A previsão é o pagamento ser feito mensalmente.
  • Auxílio-Gás: ampliação de R$ 53 para o valor de um botijão a cada dois meses — o preço médio atual do botijão de 13 quilos, segundo a ANP, é de R$ 112,60 (custo estimado: R$ 1,05 bilhão). Depende da edição de MP;
  • Transporte de idosos: compensação aos estados para atender a gratuidade, já prevista em lei, do transporte público de idosos (custo estimado: R$ 2,5 bilhões). Depende de regulamentação federal;
  • Taxistas: benefícios para taxistas devidamente registrados até 31 de maio de 2022 (custo estimado: R$ 2 bilhões). Depende de regulamentação federal;
  • Alimenta Brasil: repasse de R$ 500 milhões ao programa Alimenta Brasil, que prevê a compra de alimentos produzidos por agricultores familiares e distribuição a famílias em insegurança alimentar, entre outras destinações. Depende da edição de MP;
  • Etanol: Repasse de até R$ 3,8 bilhões, por meio de créditos tributários, para a manutenção da competitividade do etanol sobre a gasolina. Depende de regulamentação estadual.
 Apelidada de “PEC Kamikaze” pelo ministro da Economia, Paulo Guedes — quando o governo ainda não cogitava patrocinar a medida—, a proposta prevê um gasto adicional de R$ 41,2 bilhões não previsto no Orçamento federal.

Nesta quinta-feira (14), Guedes disse que a chamada "PEC Kamikaze" é, na verdade, a "PEC das Bondades".

Piso para profissionais de enfermagem

Também na sessão desta quinta (14), o Congresso promulgou a emenda constitucional que viabiliza a fixação de um piso nacional para a remuneração de enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxiliares de enfermagem e parteiras.

A emenda inclui na Constituição a previsão de que uma lei federal irá instituir os pisos salariais para enfermeiro, técnico de enfermagem, auxiliar de enfermagem e parteira

O  projeto que cria a lei federal mencionada já foi aprovado pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, mas não chegou a ser enviado à sanção presidencial. Isso porque os parlamentares avaliaram que a previsão deveria ser incluída na Constituição, para tentar evitar ações judiciais que poderiam suspender o piso. Para isso, entendem os congressistas, era preciso promulgar a emenda antes.

Recursos ao STJ

Também foi promulgada nesta quinta-feira (14) a emenda constitucional que limita o número de recursos que podem ser apresentados ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A emenda acrescenta um dispositivo para filtrar as possibilidades em que um recurso pode ser apresentado ao STJ: o da "relevância das questões de direito federal infraconstitucional".

Defensores da mudança na Constituição dizem que o objetivo do filtro é "descongestionar" o sistema de justiça, "reduzindo o número de recursos especiais junto ao STJ".

Presidente da Corte, o ministro Humberto Martins acompanhou a promulgação da PEC no plenário do Senado.


Fonte G1



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