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Em disputa acirrada e polêmica, Nunes (MDB) e Boulos (PSOL) vão para 2º turno em SP; Marçal (PRTB) fica fora

Ficou para o dia 27 a decisão dos eleitores de quem ocupará o cargo de chefe do Executivo da mais rica e populosa cidade do Brasil

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Após corrida eleitoral acirrada marcada por polêmicas, agressões, laudo falso e recorde de debates, o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) seguem para o segundo turno em São Paulo. Pablo Marçal (PRTB) foi uma ameaça real para os adversários, mas acabou ficando de fora da disputa. Agora, fica para o dia 27 a decisão dos eleitores de quem ocupará o cargo de prefeito da mais rica e populosa cidade do Brasil.

O resultado se deu com 99,52% das urnas apuradas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), às 21h07 deste domingo, 6. Até o momento, o candidato do MDB alcançou 29,49% (1.793.199) dos votos válidos, enquanto o do PSOL apareceu com 29,06% (1.766.892 votos). Pablo Marçal ficou na terceira colocação com 28,14% (1.710.958). 

Também disputaram as eleições Tabata Amaral (PSB), Datena (PSDB), Maria Helena (Novo), Altino Prazeres (PSTU), Bebeto Haddad (DC), João Pimenta (PCO) e Ricardo Senese (UP). Confira a apuração completa de votos da cidade de São Paulo:

Total de votos válidos, com 99,52% das urnas apuradas

Ricardo Nunes (MDB): 29,49% (1.793.199 votos)

Guilherme Boulos (PSOL): 29,06 % (1.766.892 votos)

Pablo Marçal (PRTB): 28,14% (1.710.958 votos)

Tabata Amaral (PSB): 9,92% (603.300 votos)

Datena (PSDB): 1,84% (111.733 votos)

Maria Helena (Novo): 1,38 % (83.983 votos)

Ricardo Senese (UP): 0,09 % (5.556 votos)

Altino Prazeres (PSTU): 0,05 % (3.011 votos)

João Pimenta (PCO): 0,02 % (960 votos)

Bebeto Haddad (DC): 0,01 % (832 votos)

Votos nulos: a definir

Votos brancos: a definir

    Evolução dos candidatos




    São Paulo tem a eleição mais acirrada em 12 anos, com o cenário semelhante ao da eleição de 2012, quando José Serra (PSDB), Celso Russomanno (PRB) e Fernando Haddad (PT) disputavam a liderança. Empates técnicos triplos foram computados nas últimas pesquisas de intenção de voto deste pleito, como no caso das publicadas às vésperas da eleição, neste sábado, 5. Tanto no Datafolha, quanto na Quaest, Boulos apareceu numericamente na frente, mas com Nunes e Marçal bem na cola. 

    Boulos registrou uma trajetória em ascensão, mais estabilizada. O atual prefeito, Ricardo Nunes, esteve em queda nas últimas semanas – contrapondo Marçal, que seguiu em ascensão. Analisando as pesquisas temporalmente, em paralelo com as performances dos candidatos nos debates, nas ruas e nas redes sociais, é possível notar que desde o final de setembro os três estiveram em um imbróglio. Há um dia da eleição, a escolha do público não estava definida. 

    O que mudou, consideravelmente, foi a rejeição dos candidatos. Enquanto Boulos começou a corrida eleitoral sendo o mais preterido, Marçal escalonou como o candidato que os eleitores "não votariam de jeito nenhum". Segundo o Datafolha, enquanto o pico de rejeição de Boulos foi de 38% dos eleitores, o de Marçal chegou a 53% neste sábado. Já Nunes, na contramão, se mostrou um candidato mais neutro entre eles, com 25% de rejeição.

    Acompanhe a evolução dos candidatos nas pesquisas ao longo das últimas semanas:

    Com relação ao segundo turno, entre Nunes e Boulos, o atual prefeito sai na frente nas pesquisas eleitorais. Acompanhe as projeções:

    A região sudeste concentra o maior eleitorado do País: 66.906.335 eleitores (quase 43% do total), segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Deste total, 34.403.609 dos eleitores são do Estado de São Paulo. Isso significa que a cada cinco votantes no País, pelo menos um mora no Estado. Só na capital são mais de 9,3 milhões de eleitoras e eleitores – montante que corresponde quase ao total do eleitorado da região Centro-Oeste, que está com cerca de 9,7 milhões.

    PSDB e PT perdem a força em São Paulo 

    Com o resultado das urnas rumo ao 2º turno, as duas siglas mais vitoriosas na capital paulista --PT e PSDB– ficam de fora da disputa direta pela prefeitura. É a primeira eleição sem um candidato do PT concorrendo ao cargo de prefeito. 

    Em 2020, o partido ficou em sexto lugar na disputa. Isso ocorreu após os baixos desempenhos nas urnas em 2016, quando o então prefeito Fernando Haddad foi derrotado no primeiro turno. Nessa toada, agora, a estratégia do Partido dos Trabalhadores foi apoiar Boulos e lançar Marta Suplicy (PT) como sua vice, no retorno da ex-prefeita ao partido após cumprir mandato no MDB.

    Já o PSDB, após a vitória nas duas últimas disputas, apostou na candidatura do apresentador José Luiz Datena, que não convenceu o eleitorado. Mas, de certo modo, o partido foi o responsável pela origem da atual candidatura de Nunes, que assumiu o cargo de prefeito após a morte de Bruno Covas (PSDB), em maio de 2021. O tucano morreu aos 41 anos, vítima de um câncer no sistema digestivo. 

    Agora, o emedebista está mais próximo de se unir a Gilberto Kassab (PSD) e Bruno Covas na lista de mandatários que conseguiram ocupar duas vezes a chapa que lidera a capital paulista. Vale lembrar que, desde o fim da ditadura militar brasileira, em 1985, a cidade de São Paulo teve 11 prefeitos diferentes e nenhuma reeleição. Kassab e Covas não foram propriamente reeleitos, já que eles assumiram o posto como vices em seus primeiros mandatos. Essa é a mesma situação do atual prefeito.  

    Daqui pra frente, enquanto Boulos vai continuar investindo no apoio direto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Nunes deve recorrer ainda mais para a imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e do governador Tarcísio Freitas (Republicanos) – nomes que devem intensificar a polarização política na reta final da corrida eleitoral. Até o primeiro turno, os padrinhos políticos tiveram pouca participação nas campanhas.

    Entre os dois pólos, no geral, a maior parte dos prefeitos de São Paulo tiveram uma postura "ao centro", por mais que, com relação a projetos, se aproximem mais da direita. O PT já elegeu três nomes para ocupar a cadeira de chefe do executivo da maior metrópole da América Latina: Luiza Erundina (1989-1992), Marta Suplicy (2001-2004) e Fernando Haddad (2013-2016), atual ministro da Economia. Mas já são oito anos sem um candidato posicionado à esquerda no posto.

    Campanha polêmica e muitos debates 

    Com recorde de 11 debates no primeiro turno das eleições municipais de São Paulo, a corrida eleitoral para o primeiro turno da Prefeitura foi marcada por candidatos reativos, trocas de acusações e xingamentos sem filtro sendo proferidos na rede aberta de televisão e, até mesmo, agressões – como foi o caso da cadeirada de Datena em Pablo Marçal e da briga de bastidor em que um assessor de Marçal deu um soco no marqueteiro de Ricardo Nunes, Duda Lima, que ficou com o rosto ensanguentado.




    Em meio a essa intensidade que se deu, na maior parte do tempo, em um clima agressivo, houve pouco espaço para o aprofundamento das propostas dos candidatos. Em contrapartida, o 'teto de vidro' de cada um dos candidatos tentou ser atingido sempre que possível pelos adversários.

    No caso de Nunes, ao longo das semanas foi relembrado o boletim de ocorrência por violência doméstica contra o atual prefeito, registrado na 6ª Delegacia de Defesa da Mulher em 2011. O assunto veio à tona no primeiro debate, no início de agosto, e a própria esposa de Nunes se revoltou: "Deixe minha família em paz!", chegou a gritar na plateia do estúdio após Tabata citar o caso. O boletim de ocorrência existiu, mas ao longo da campanha eleitoral a mulher alegou que Nunes nunca a agrediu. O assunto seguiu sendo citado. No debate da Folha e UOL, por exemplo, Marçal perguntou 10 vezes a Nunes sobre o caso. Além disso, suposto envolvimento do prefeito nas investigações em torno da 'máfia das creches' foi outro 'calcanhar de Aquiles' para o candidato.

    Já para Boulos, candidatos tentaram descredibilizar sua candidatura trazendo à tona a sua militância no Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), e atrelando sua trajetória a fake news já conhecidas. Além disso, outro ponto de crítica envolveu o deputado federal André Janones (Avante), indiciado pela Polícia Federal por suposto esquema de 'rachadinha', que também é aliado do presidente Lula. Isso porque Boulos foi o relator do processo de cassação do deputado e, em junho, o Conselho de Ética da Câmara aprovou o relatório do candidato e arquivou o processo. O argumento pelo arquivamento foi de que os fatos ocorridos foram de antes do início do mandato de Janones.

    No caso do Marçal, que seguiu em empate técnico triplo nas pesquisas de intenções de voto ao lado de Nunes e Boulos, a principal questão trazida à tona ao longo dos últimos meses foi a quadrilha de fraude bancária do qual ele foi condenado por participar. O autodenominado ex-coach já foi preso temporariamente em 2005, quando tinha 18 anos, na investigação que apurou o caso. Embora considerado culpado, ele não chegou a cumprir a pena, que prescreveu. 




    Mas sua principal 'ruína' foi a dois dias do primeiro turno, quando Marçal publicou um laudo falso contra Boulos. Ao longo de toda a campanha o influenciador tentou, sem provas, associar o psolista ao uso de drogas. Primeiro ele usou um processo de outra pessoa, homônimo de Guilherme Boulos, que foi réu por consumo pessoal de drogas em 2011. Depois disse ter um exame toxicológico que iria encurralar Boulos – mas que, na realidade, nunca existiu.

    O que Marçal apresentou foi um documento falso, conforme confirmado por peritos da Polícia Civil, com uma assinatura errada de um médico já falecido, informações pessoais de Boulos erradas e emitido pela clínica de Luiz Teixeira da Silva Junior, amigo do ex-coach. Por conta desse material, após notícia-crime de Boulos, a Justiça Eleitoral suspendeu o perfil do candidato por 48 horas, a contar de sábado, 5. Por isso, neste primeiro turno, ele ficou sem acesso às redes sociais – tendo, até o momento, três contas derrubadas. 

    Quem é Ricardo Nunes?





    Ricardo Luis Reis Nunes tem 56 anos e concorre à reeleição  da Prefeitura de São Paulo com apoio da coligação 'Caminho Seguro pra São Paulo' (PP, MDB, PL, PSD, Republicanos, Solidariedade, Pode, Avante, PRD, Agir, Mobiliza, União). O governador do Estado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o ex-presidente Jair Bolsonaro também apadrinham o candidato.

    Seu vice-prefeito é o coronel Ricardo Mello Araújo (PL). Ele é ex-comandante da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), coronel da reserva da Polícia Militar e pós-graduado em Fisiologia do Exercício pela Universidade de São Paulo (USP). Essa é a primeira vez que Araújo, que foi indicado pelo ex-presidente Bolsonaro, concorre a um cargo político.

    Ricardo Nunes se filiou ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB) – antigo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) - em 1986, quando tinha 18 anos. Ele nunca trocou de partido. A partir disso, entrou de vez para a política em 2012, quando foi eleito vereador de São Paulo. Em 2014, tentou ser deputado federal, mas não conseguiu. Depois, em 2016, foi vereador novamente. Em 2018 foi deputado federal suplente, sem conseguir se eleger. E, por fim, foi eleito vice-prefeito na chapa de Bruno Covas em 2020. 

    Com o falecimento de Covas, vítima de um câncer do qual lutava desde 2019, Nunes assumiu a prefeitura de São Paulo em 2021. Por mais que já estivesse a anos na política, Nunes, um empresário do ramo de pesticidas, não tinha grandes projeções e ainda era pouco conhecido. Em todos esses anos, portanto, essa é a primeira vez que ele concorre como cabeça de chapa à eleição. 

    Ricardo Nunes nasceu em São Paulo e mora em um bairro nobre da Zona Sul de São Paulo. Ele é casado com Regina Carnovale Nunes, tem três filhos e um neto. Ele chegou a estudar Direito no Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), mas, por dívidas, não concluiu a graduação. Antes de iniciar a carreira política, Nunes era empresário – e tocava uma empresa de controle de pragas urbanas. 

    Neste ano, ele declarou à Justiça Eleitoral R$ 4.843.350,91 em bens. A maior parte de seu dinheiro está envolvida em investimentos diversos, que representam R$ 3,1 milhões. Além disso, ele conta com R$ 694,7 mil em terrenos, R$ 862 mil em imóveis e R$ 175,6 em um trator agrícola. Desde sua primeira candidatura, em 2012, seu patrimônio aumentou em cerca de R$ 595 mil. 

    Quem é Guilherme Boulos?





    Guilherme Castro Boulos tem 42 anos e concorre à Prefeitura de São Paulo pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Boulos tem apoio das coligações PSOL Rede (PSOL/Rede) e da Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV), assim como do PDT. Seu padrinho político é o atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

    Sua vice-prefeita é Marta Suplicy. Pelo Partido dos Trabalhadores ela foi eleita prefeita de São Paulo em 2000 e senadora em 2010. Nesse meio tempo, em 2007, se tornou ministra do Turismo no governo Lula e, em 2008, chegou ao segundo turno da prefeitura de São Paulo, mas não foi eleita. Ela também foi ministra da Cultura entre 2012 e 2014, no governo Dilma. Em 2016 concorreu pelo MDB à Prefeitura, mas não foi escolhida para o cargo. Agora, em retorno ao PT, ela concorre como vice pela primeira vez.

    Boulos se filiou ao PSOL em 2018, quando se candidatou à presidência da República – eleição que elegeu Jair Bolsonaro. Depois, em 2020, tentou se tornar Prefeito de São Paulo, sem sucesso. Até que se elegeu deputado federal em 2022.

    Antes de se tornar político, Boulos foi coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST). Ele milita desde a adolescência, tendo entrado para o movimento aos 19 anos e morado em uma ocupação. Ele é professor, escritor e psicanalista, sendo mestre em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP).

    Boulos nasceu em São Paulo, foi criado em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, e atualmente mora em Campo Limpo, na zona sul. Ele mantém um relacionamento com Natalia Szermeta e, juntos, têm duas filhas.

    Ele declarou R$ 199.596,87 à Justiça Eleitoral neste ano. Os bens são de um carro, um Celta 2009/2010 (R$ 15.146), 50% dos direitos de uma casa e seu respectivo terreno (R$ 171.758) e de aplicações e depósitos bancários (somando R$ 12.692,87). De 2018, quando se candidatou pela primeira vez, para cá, seu patrimônio aumentou em R$ 184.180.




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