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Itamaraty descarta reagir a Maduro na mesma moeda e quer deixar ditador 'falando sozinho'

 

Governo Lula está decidido a não escalar tensões e manter a melhor interlocução possível com a Venezuela; veja bastidores




A decisão da Venezuela de convocar seu embaixador no Brasil para esclarecimentos não deve resultar em uma piora significativa na relação bilateral. Ao menos não da parte brasileira. Nos bastidores, a cúpula da diplomacia assegura que o Itamaraty não deverá responder na mesma moeda - ou seja, convocar a embaixadora em Caracas, Glivânia Maria de Oliveira.

O governo Lula está decidido a não escalar as tensões e manter a melhor interlocução possível com a Venezuela, para evitar a suspensão dos serviços consulares a brasileiros que estão no país vizinho. Para diplomatas de alto escalão, Maduro usa as relações internacionais para gestos voltados a seu público interno. A ordem, portanto, é deixar o ditador “falando sozinho”, sem alimentar seus arroubos.

Além disso, a afirmação da chancelaria da Venezuela de que o assessor do presidente Lula para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, seria um auxiliar do “imperialismo norte-americano” foi recebida com gargalhadas no governo. O ex-ministro frequentemente tem posições contrárias às dos Estados Unidos.

O presidente Lula com o ministro das Relações Exterioes, Mauro Vieira.
O presidente Lula com o ministro das Relações Exterioes, Mauro Vieira. Foto: Pedro Kirilos/Estadão

A Venezuela convocou o embaixador no Brasil, Manuel Vadell, para “consultas”. Na linguagem diplomática, trata-se de um gesto de repúdio que antecede uma eventual retirada da representação no País. De acordo com o governo venezuelano, a decisão foi tomada após “recorrentes declarações intervencionistas e grosseiras” de autoridades brasileiras de Celso Amorim. 

Na véspera, Amorim havia reconhecido em audiência na Câmara que há um “mal-estar” na relação bilateral, após Caracas não cumprir a promessa de apresentar as atas eleitorais. A eleição venezuelana foi marcada por indícios de fraude apontados por organismos internacionais.

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Itamaraty mantém postura estratégica e ignora provocações de Maduro

Nas últimas semanas, a diplomacia brasileira, liderada pelo Itamaraty, optou por uma postura estratégica de não responder às recentes declarações do presidente venezuelano, Nicolás Maduro. O governo brasileiro tomou a decisão de não reagir “na mesma moeda”, evitando um confronto direto e mantendo a serenidade diante das declarações do mandatário venezuelano. Esse posicionamento visa deixar o presidente Maduro “falando sozinho”, de forma a minimizar possíveis escaladas de tensão entre os dois países.

A decisão do Itamaraty é fundamentada em dois princípios principais: manter o equilíbrio regional e evitar distrações que poderiam desviar o foco das questões centrais da política externa brasileira. O Itamaraty acredita que revidar aos ataques de Maduro poderia conceder um protagonismo desnecessário ao presidente venezuelano, o que acabaria por alimentar a narrativa de um suposto embate direto entre Brasil e Venezuela. Para a diplomacia brasileira, manter um tom moderado e evitar confrontos públicos são essenciais para proteger a imagem do Brasil como um país comprometido com a estabilidade regional e o diálogo pacífico.

O chanceler brasileiro e a equipe diplomática defendem que o Brasil precisa demonstrar maturidade nas suas relações exteriores, especialmente quando se trata de vizinhos da América Latina. Essa postura reflete uma estratégia de longa data do Itamaraty, que prioriza a resolução de conflitos por vias diplomáticas e evita exacerbar disputas públicas. Tal abordagem está alinhada com o desejo de consolidar uma política externa independente e baseada na moderação, sem ceder a provocações que possam desviar o país de seus objetivos mais amplos.

Outro ponto relevante é o impacto da postura brasileira sobre a comunidade internacional. Ao se abster de um confronto direto com Maduro, o Brasil reforça a mensagem de que está disposto a liderar pelo exemplo, promovendo um modelo de diplomacia focado no diálogo e na cooperação. Essa postura visa, também, proteger os interesses de brasileiros e empresas brasileiras que atuam na Venezuela, além de buscar uma posição de influência no contexto das negociações regionais.

Em resposta às declarações de Maduro, o Itamaraty aposta que o isolamento retórico do presidente venezuelano funcionará como um contrapeso para eventuais tentativas de confrontação pública. Deixar Maduro “falando sozinho” é uma forma de neutralizar suas palavras sem conceder espaço para que essas afirmações influenciem diretamente a opinião pública ou causem atritos desnecessários. Essa estratégia ajuda o Brasil a preservar sua integridade diplomática e evita a criação de uma crise diplomática que não traria benefícios concretos ao país.

Contudo, o Brasil não descarta atuar de forma incisiva nos bastidores. O Itamaraty continua monitorando a situação na Venezuela e trabalha junto a organismos multilaterais para garantir que os direitos humanos e os princípios democráticos sejam respeitados no país vizinho. Embora o Brasil tenha adotado uma postura silenciosa em público, ele segue comprometido com a democracia e busca atuar de forma sutil e eficaz em prol de uma América Latina mais estável e democrática.

Além disso, o Brasil sinalizou seu apoio ao Grupo de Lima e à Organização dos Estados Americanos (OEA) em esforços para resolver a crise na Venezuela. Essa articulação evidencia que o silêncio do Brasil diante das provocações de Maduro não significa inação, mas sim uma tática calculada que permite ao país agir de forma colaborativa com a comunidade internacional.

Em última instância, a decisão de não responder às provocações de Maduro reflete uma política de Estado, e não uma simples decisão de governo. É uma estratégia que leva em consideração o longo prazo e os interesses permanentes do Brasil na região. Ao optar pelo silêncio e pela serenidade, o Itamaraty reafirma seu compromisso com uma diplomacia prudente e focada em resultados concretos, visando proteger a posição do Brasil como um ator relevante e confiável na América Latina.

Em tempos de polarização e tensões políticas, a postura do Itamaraty é um lembrete de que, muitas vezes, o silêncio estratégico é mais poderoso do que uma resposta impulsiva.



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