Lula fala grosso com as empresas de tecnologia e avisa que Brasil não abrirá mão de sua soberania "Censura"
Governo brasileiro protocolou notificação extrajudicial exigindo que a Meta explique as potenciais implicações das mudanças nas suas redes
Depois de o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, avisar as grandes empresas de tecnologia de que terão de cumprir as leis brasileiras, o presidente Lula resolveu falar grosso com a Meta, empresa dona do Facebook, do Instagram e do WhatsApp. Em reunião nesta sexta-feira (10), Lula e um grupo de ministros decidiram protocolar uma notificação extrajudicial para que a empresa Meta explique as potenciais implicações da mudança nas diretrizes das redes digitais que controla.
De acordo com o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, Lula disse que não abrirá mão da soberania do país e que toda e qualquer empresa nacional ou multinacional terá que respeitar o arcabouço fiscal e a justiça brasileira.
— A gente vê com muita preocupação o anúncio de uma das principais redes digitais de que não fará mais controle de conteúdo, porque isso impacta de forma muito grande a sociedade brasileira — disse Rui Costa.
De acordo com o ministro, impacta quando se fala de conteúdo impróprio, de informações que dizem respeito a práticas criminosas, do respeito à vida humana, de agressões por discriminação racial, de gênero, regional e discursos de ódio.
— Nos preocupa muito quando esse controle deixa de existir também para divulgação de fake news — completou.
A notificação extrajudicial pede que a Meta explique, em até 72 horas, qual será a política adotada para o Brasil.
— O Brasil tem uma legislação rigorosa na proteção de crianças e adolescentes, de populações vulneráveis, do ambiente de negócio e nós não vamos permitir, de forma alguma, que essas redes transformem o ambiente em uma carnificina ou barbárie digital _ afirmou o advogado-geral da União, Jorge Messias.
Lula já havia abordado o assunto no dia 8 de janeiro, durante o ato que lembrou os atos violentos de dois anos atrás:
— Eu acho que é extremamente grave as pessoas quererem que a comunicação digital não tenha a mesma responsabilidade do cara que comete um crime na imprensa escrita, sabe? É como se um cidadão pudesse ser punido porque ele faz uma coisa na vida real e pudesse não ser punido porque ele faz a mesma coisa na digital. O que nós queremos, na verdade, é que cada país tenha a sua soberania resguardada
O presidente brasileiro também anunciou a criação de um grupo de trabalho do governo federal, que poderá se aliar aos poderes Legislativo e Judiciário além da sociedade civil, para acompanhar os desdobramentos das medidas anunciadas pela Meta. O objetivo é "fortalecer a liberdade de expressão, sem tolerar a violação de direitos fundamentais", segundo Lula.
Conversa com Macron
Lula também tratou do tema em conversa por telefone com o presidente da França, Emmanuel Macron. Na ligação feita pelo europeu, Lula elogiou as manifestações do governo francês sobre a recente decisão da Meta de reduzir a checagem de fatos de suas publicações.
Eles concordaram que liberdade de expressão não significa liberdade de espalhar mentiras, preconceitos e ofensas. Os dois consideraram positivo que Brasil e Europa sigam trabalhando juntos para impedir que a disseminação de “fake news” coloque em risco a soberania dos países, a democracia e os direitos fundamentais de seus cidadãos.
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