Primeiro-ministro israelense tem solicitado que regime dos Aiatolás seja derrubado e não descartou atentado contra Ali Khamenei
Benjamin Netanyahu elevou ainda mais o tom de sua retórica contra o Irã ao sugerir publicamente que a morte do Aiatolá Ali Khamenei poderia ser a solução definitiva para a escalada do conflito. Em entrevista à ABC News, o premiê israelense foi direto ao afirmar que “fará o que tem de ser feito” para pôr fim às hostilidades, sem descartar explicitamente um atentado contra o líder supremo iraniano. Essa fala, por si só, representou uma guinada na tensão já crítica entre os dois países e alimentou especulações sobre a possibilidade de uma ação mais agressiva, possivelmente com apoio ou intervenção de outros atores internacionais.
Nos últimos cinco dias, Israel intensificou ataques a instalações nucleares e a figuras-chave do programa atômico iraniano. Com bombardeios que, segundo técnicos da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), teriam danificado até quinze mil centrífugas na planta de Natanz, a comunidade global observa com apreensão a degradação do acordo de 2015, que permitiu ao Irã manter atividades nucleares civis sob rigorosa fiscalização em troca de alívio econômico. Apenas a fábrica subterrânea de Fordow, protegida dentro de uma montanha, permanece operacional – um lembrete da vulnerabilidade dos centros mais expostos e da segurança dos que estão enterrados profundamente.
Além do ataque a sua infraestrutura nuclear, o Irã viu sua televisão estatal ser bombardeada por Israel, que alegou ter identificado o prédio como um centro de comunicações militares disfarçado de emissora civil. A interrupção forçada das transmissões provocou revolta interna e uniu diferentes facções políticas iranianas em torno de uma resposta forte e coesa. Conforme relatou o jornalista Abas Aslani à CNN, mesmo críticos do regime passaram a defender uma retaliação pesada: “A ameaça externa vinda de Israel uniu todos sob a mesma bandeira. Agora, todos concordam que o Irã precisa dar uma resposta esmagadora.”
Do lado de Teerã, a retórica não foi menos inflamável. O presidente Masoud Pezeshkian declarou que não deseja uma escalada desnecessária, mas garantiu que responderá de forma proporcional aos ataques sofridos, incluindo a possibilidade de lançar mísseis contra instalações de mídia em Israel. Paralelamente, o Parlamento iraniano se prepara para votar um projeto de lei que retiraria o país do Tratado de Não-Proliferação, redirecionando o programa nuclear exclusivamente para fins energéticos e, possivelmente, militares — o que tornaria irreversível a supervisão internacional imposta pela AIEA.
Em Washington, os bastidores políticos também fervilham. Fontes da Casa Branca revelaram que, durante o final de semana, o então presidente Donald Trump interveio para barrar um suposto plano de assassinato contra Khamenei. A decisão do inquilino da Casa Branca surpreendeu tanto aliados quanto adversários, ao demonstrar, segundo analistas, um receio de uma escalada que colocasse em risco interesses estratégicos dos Estados Unidos na região e, sobretudo, a segurança de tropas estacionadas no Oriente Médio. Em um tuíte recente, Trump chegou a afirmar que “o Irã deveria ter honrado o acordo que negociei” e convocou “todos” a deixarem Teerã imediatamente, numa clara tentativa de aumentar a pressão diplomática sobre o governo iraniano.
A conjuntura geopolítica nunca esteve tão frágil. Israel acusa repetidamente o Irã de financiar e armar grupos militantes na Faixa de Gaza, no Líbano e na Síria, e aponta o programa nuclear como ameaça existencial. Por sua vez, o Irã vê o Estado hebreu como um satélite dos EUA e denuncia a política israelense de bombardeios seletivos como uma violação flagrante do direito internacional. A escalada de discursos beligerantes, somada aos ataques diretos a infraestruturas civis e militares estratégicas, empurra ambos os países para um ponto de ruptura que poderá envolver alianças regionais – Turquia, Arábia Saudita e outros membros do Golfo – e grandes potências, como Rússia e China, que mantêm laços econômicos e militares com Teerã.
Para a população iraniana, o convite de Netanyahu para derrubar o regime dos aiatolás soa, paradoxalmente, como um catalisador de nacionalismo. As manifestações recentes em apoio ao governo mostraram bandeiras verdes, brancas e vermelhas unificadas, com cartazes que pedem “respeito à soberania” e “fim das provocações externas”. Enquanto isso, em Tel Aviv, surgem vozes críticas também às diretrizes de Netanyahu, que clamam por uma postura mais cautelosa, alertando para os riscos de um conflito regional que pudesse se estender ao sul do Líbano e ao território sírio, onde já há presença militar significativa das Forças de Defesa de Israel (IDF).
O futuro imediato parece imprevisível. Se, por um lado, uma resposta esmagadora do Irã poderia desencadear um ciclo de violência incontrolável, por outro, o recuo de Israel diante de pressões externas – sobretudo americanas – poderia ser interpretado como um sinal de fraqueza, incentivando ações ainda mais ousadas de grupos extremistas. No meio desse jogo de xadrez nuclear e militar, quem mais sofre é a população civil: já há registros de deslocados internos no Irã, e nas cidades fronteiriças israelenses cresce o temor de ataques de terroristas apoiados por Teerã.
Não há soluções fáceis. A diplomacia tradicional parece incapacitada para frear as ambições nucleares de um lado e as garantias de segurança -- ou afirmações de força -- do outro. A comunidade internacional se vê novamente dividida entre sanções econômicas e apelos por diálogo. Enquanto isso, o Aiatolá Khamenei, em seu gabinete, decide seu próximo movimento, estudando – segundo relatos não confirmados – contraofensivas em solo estrangeiro, que poderiam envolver operações encobertas em territórios aliados de Israel.
Em síntese, o convite de Netanyahu para derrubar o regime iraniano, aliado à ameaça velada contra o líder supremo, cruzou um limiar perigoso. Resta saber se a união nacionalista no Irã e a liderança firme em Jerusalém levarão a um acordo de paz ou a uma conflagração de proporções ainda maiores. Uma coisa é certa: o mundo observa, apreensivo, enquanto a contagem regressiva para o próximo movimento estratégico segue em andamento.
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