Renê da Silva Nogueira Júnior, suspeito de matar o gari em BH, e Matteos França Campos, que confessou ter matado a própria mãe, estão no Presídio de Caeté
O presídio de Caeté foi inspecionado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 17 de julho. Na época, a lotação era de 86 homens reclusos. No entanto, a unidade foi projetada para abrigar 49 pessoas. A reportagem procurou a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), para saber qual a atual lotação do espaço, no entanto, a pasta afirmou que “por estratégia de segurança” não informa o número de presos nas unidades do estado.
Ainda conforme dados disponibilizados pelo CNJ, há cerca de um mês, eram 12 presos em cada cela, sendo que, da ocupação total, 75 eram detentos provisórios, ou seja, aqueles que ainda não foram julgados ou aguardam decisões judiciais no regime fechado. Esse é o caso de Renê e Matteos. Os dois ainda aguardam o encerramento das investigações da Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) e um possível indiciamento, ou não.
O órgão do Judiciário também informou que os presos que aguardam decisões não ficam separados daqueles que já receberam uma sentença. O mesmo acontece com aqueles que estão detidos pela primeira vez e os reincidentes.
Homicídio no Vista Alegre
Renê da Silva Nogueira Júnior, de 47 anos, foi preso em flagrante na segunda-feira (11/8) suspeito de ter atirado e matado o gari Laudemir de Souza Fernandes, de 44 anos, no Bairro Vista Alegre, na Região Oeste de BH. De acordo com a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), ele foi identificado como o homem que se irritou com um caminhão de coleta de resíduos, na Rua Modestina de Souza. Irritado, o suspeito ameaçou e disparou contra os prestadores de serviço da Superintendência de Limpeza Urbana, da Prefeitura de Belo Horizonte, segundo as testemunhas do crime.
O suspeito foi identificado pelos policiais militares a partir de números parciais da placa do carro que dirigia repassados pela motorista do caminhão e imagens de câmera de segurança. Em depoimento a mulher afirmou que depois que Laudemir foi atingido ela tentou conferir a identificação do BYD pelo retrovisor, mas conseguiu ver que possuía uma letra J e os números 77.
Já no boletim de ocorrência, consta que os policiais perceberam, em gravações, que a chapa começava com SJ. Assim, durante a procura pelo suspeito, os policiais fizeram buscas no sistema e descobriram a combinação de números e letras.
Em seu depoimento na Central de Audiência de Custódia, o investigado alegou que o carro flagrado no local do crime não era dele. Ele justificou dizendo que seu veículo é híbrido - ou seja, tem motores elétricos e a combustão - e o da imagem mostrada a ele na abordagem policial se tratava de um modelo, da mesma marca, totalmente elétrico.
O empresário também alegou que o carro registrado nas imagens apresentava uma lateral cromada, detalhe que o veículo dele não teria. “Não são os mesmos carros”, disse o suspeito aos policiais, de acordo com depoimento dele. O boletim de ocorrência também informou que o carro flagrado na cena do crime era um BYD Song Plus na cor cinza, modelo que a esposa do investigado, uma delegada da PCMG, tem registro em seu nome.
Durante a audiência de custódia, o juiz Leonardo Vieira Rocha Damasceno argumentou que apesar da versão dada por Renê, a “materialidade delitiva” e os “indícios de autoria” estão reunidos no registro da PMMG e pelos depoimentos das testemunhas. Ainda segundo o magistrado, o suspeito agiu com frieza e desproporcionalidade uma vez que logo após a “breve discussão” sacou a arma e a preparou para o disparo. Para ele, a ação demonstra que sua atitude não foi um ato de “impulso momentâneo” e sim uma decisão “consciente” e “voluntária”.
“Ao sacar sua pistola e apontá-la diretamente para a motorista, uma trabalhadora no exercício de sua função, o autuado demonstrou um total descontrole emocional e uma perigosa predisposição para o uso da violência letal como primeira resposta a contrariedades do cotidiano”, afirmou Damasceno.
Quem é o suspeito?
Renê da Silva Nogueira Júnior, 47 anos.
Ex-vice-presidente de empresa de alimentos; desligado após repercussão.
Casado com a delegada Ana Paula Balbino Nogueira (PCMG).
Se descrevia como “cristão, esposo, pai e patriota”.
Tem outros registros policiais em São Paulo (lesão corporal grave contra uma mulher) e Rio de Janeiro (lesão corporal contra ex-companheira, ameaça contra ex-sogra e envolvimento em homicídio culposo)
Nega ter antecedentes criminais; diz que só responde a processo por luxação no pé da ex-esposa.
Morte de professora
Soraya Tatiana Bonfim França, de 56 anos, foi encontrada morta em 20 de julho. Seu corpo estava coberto por um lençol sob um viaduto no Bairro Conjunto Caieiras, em Vespasiano, na Região Metropolitana de BH. Ela estava seminua, apenas com a parte de cima da roupa. Cinco dias depois da descoberta, seu filho Matteos França Campos foi preso temporariamente e confessou o crime.
Após a prisão, na casa do pai do suspeito, em depoimento à delegada Ana Paula Rodrigues de Oliveira, do Departamento Estadual de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Matteos relatou que estava em colapso financeiro devido a diversos empréstimos e gastos com jogos online de azar. Segundo a responsável pelas investigações, ele teria afirmado que a mãe já estava “cansada” das divergências econômicas do filho. Matteos atuava como assessor de comunicação na Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de Minas Gerais (Sedese). No entanto, após a prisão a pasta informou que ele foi exonerado do cargo.
- Causa da morte de professora de BH foi esganadura, diz Polícia Civil
O suspeito relatou que no dia 18 de julho, dois dias antes do corpo de Tati ser encontrado, os dois teriam começado a conversar sobre as dívidas, em determinado momento o diálogo evoluiu para discussão acalorada. Na sequência, ele teria surtado e enforcado a mãe. Apesar disso, o delegado Adriano Ricardo Mattos, também do DHPP, informou que durante oitivas com moradores do prédio em que a vítima e o suspeito moravam, ninguém relatou ter ouvido barulho vindo do apartamento.
Ainda segundo sua confissão, o homem relatou que decidiu levar o corpo de Soraya até o viaduto no Bairro Conjunto Caieiras, na Grande BH. Ele explicou que usou o carro da família para fazer o trajeto até o local de desova e voltar para casa. De volta ao apartamento, no Bairro Santa Amélia, na Região da Pampulha, ele pegou uma mala e viajou até a Serra do Cipó com um grupo de amigos.
“Ele agiu sozinho. Até este momento não tem nenhuma outra pessoa envolvida no crime. Ele afirma que estava atordoado com tudo isso, participava de apostas na internet. Ele alega que teve um surto no momento”, afirmou Ana Paula.
Suposto sequestro
No sábado de manhã, dia seguinte ao homicídio, Matteos ligou para a tia e passou a “vender” a história do desaparecimento de Soraya. Antes de ser detido, o homem procurou a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) para registrar uma ocorrência de pessoa desaparecida. Na ocasião, o suspeito afirmou que ficou preocupado ao tentar entrar em contato com a mãe por telefone e mensagens, mas não teve resposta.
Ainda segundo o registro de ocorrência, Matteos afirmou que chegou a olhar as câmeras do prédio em que morava com a mãe e não havia sinais de que ela teria saído do prédio, de carro ou a pé. Questionado, o delegado Adriano Ricardo Mattos, do DHPP, informou que as imagens não foram adulteradas, no entanto, filmagens de outros equipamentos de segurança apreendidos pela investigação podem ajudar a solucionar o crime.
Quando o corpo de Soraya foi encontrado, havia sinais semelhantes à queimadura e sangue na parte interna de suas coxas. Em um primeiro momento, houve a suspeita que ela teria sido abusada sexualmente, no entanto os investigadores não acreditam na hipótese. Mesmo assim, os policiais aguardam o resultado de laudos da necropsia para determinar a causa da morte e se houve violência sexual.
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