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Quem são os empresários presos na 25ª fase da Lesa Pátria suspeitos de financiarem acampamento no DF

 

Adauto Lucio de Mesquita e Joveci Xavier de Andrade, sócios do Melhor Atacadista em Brasília, já prestaram depoimentos e caíram em contradição na CPI dos Atos Golpistas da Câmara Legislativa do DF


Os empresários Joveci Xavier de Andrade e Adauto Lúcio Mesquita foram presos preventivamente pela Polícia Federal na manhã desta quinta (29) durante a 25ª fase da Operação Lesa Pátria, que busca os supostos participantes dos atos de 8 de janeiro de 2023.

Andrade e Mesquita são sócios da rede Melhor Atacadista, do Distrito Federal, e apontados como supostos financiadores do acampamento montado em frente ao Quartel-General do Exército, em Brasília, de onde saiu a multidão no protesto que culminou com a invasão e a depredação das sedes dos Três Poderes.

A suspeita da participação deles nos atos surgiu ainda durante as investigações da CPI dos Atos Antidemocráticos instalada na Câmara Legislativa do DF, em que Joveci prestou depoimento admitindo que frequentou o acampamento pelo menos três vezes.

Ele negou a participação nos atos de vandalismo, mas apareceu em um registro nas redes sociais segurando um cartaz em que dizia “Supremo é o povo”.


Andrade chegou a se contradizer durante o depoimento que prestou à CPI, afirmando em um primeiro momento que não participou dos atos, mas mudando o discurso após a imagem segurando o cartaz ter sido mostrada.

“Eu não participei de nenhum ato”, afirmou. Depois que a imagem foi apresentada e que foi perguntado se era ele mesmo na imagem – ele reconheceu que era –, Andrade disse que não entendeu o que o deputado Chico Vigilante (PT-DF), presidente da comissão, quis dizer com “ter participado” de atos.

“Eu não entendi assim o ‘participar’, ir lá no QG, eu fui umas três vezes. Eu entendi o participar de forma diferente”, disse afirmando que não levou mantimentos ao acampamento e que o deputado não teria nenhuma informação dele referente a isso. Ele afirmou, ainda, que chegou à Esplanada dos Ministérios por volta das 17h e que não invadiu nenhum dos prédios públicos, permanecendo apenas “próximo à rampa do Congresso Nacional”.

O empresário também foi questionado se participava de grupos de WhatsApp utilizados para comunicação entre os manifestantes. Ele não negou, apenas mencionou que, à época da eleição, foi incluído em alguns sem saber e que momentos depois descobriu que poderia bloquear essas inclusões.

“Acabou que eu entrei em alguns grupos e, quando você chega no final do dia, tem lá 1,5 mil mensagens e você não viu nenhuma. Você sai do grupo e daqui a pouco te colocam novamente. Se eventualmente eu estive em algum grupo, não me recordo de nada importante que aconteceu”, afirmou na sessão da CPI.

A defesa dos empresários afirmou que “os investigados veem agora a oportunidade de elucidar completamente as questões em aberto”, e que “reiteram seu compromisso com a democracia, o Estado de Direito, o respeito às instituições, ao processo eleitoral” e instituições como Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal.

“O Grupo ao qual Joveci e Adauto são acionistas reitera que é contra o vandalismo e a intolerância política, e acredita que a democracia é feita com pensamentos diferentes, mas jamais com violência. A diretoria do Grupo respeita as Instituições brasileiras, a democracia e o Estado de Direito”, completou a defesa dos alvos.

A operação foi deflagrada há mais de um ano com o objetivo de identificar pessoas que financiaram e fomentaram os atos ocorridos em 8 de janeiro de 2023. Ao todo, foram cumpridos nesta manhã 34 mandados judiciais, sendo 24 mandados de busca e apreensão, três mandados de prisão preventiva e sete de monitoramento eletrônico, todos expedidos pelo Supremo Tribunal Federal. As ações ocorrem no Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Tocantins, Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Espírito Santo e Distrito Federal.

Também foi determinada a indisponibilidade de bens, ativos e valores dos investigados. Apura-se que a quantia dos danos causados ao patrimônio público possa chegar à cifra de R$ 40 milhões. E os investigados, caso confirmados os seus caráteres de financiadores da depredação, deverão ser intimados a arcar com parte dos prejuízos.

Os fatos investigados constituem, em tese, os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido. As investigações continuam em curso, e a Operação Lesa Pátria é permanente, com atualizações periódicas acerca do número de mandados judiciais cumpridos e pessoas capturadas.

Joveci Xavier de Andrade

Em abril de 2023, Joveci foi convocado à CPI dos Atos Golpistas, na Câmara Legislativa do Distrito Federal, justamente para dar explicações sobre as acusações. Além disso, também é acusado de fornecer transporte para que os bolsonaristas se dirigissem a Brasília para realizar os ataques.

À época ele negou ter participado da depressão nas sedes dos três poderes mas entrou em contradição ao ser confrontado com duas fotos em que aparece ao lado dos bolsonaristas e voltou atrás na declaração. Numa das fotos ele aparece segurando um cartaz contra o Supremo Tribunal Federal na Esplanada do Ministérios em pleno 8 de janeiro. Em outra aparece confraternizando com os radicais bolsonaristas no próprio acampamento.

Joveci Xavier de Andrade em depoimento à CPI. Créditos: André Duarte/Divulgação

“Eu não entendi assim o ‘participar’. Ir lá, no QG eu fui muitas vezes. Eu entendi o participar de forma diferentes”, tentou se explicar à CPI. Sobre sua participação nos atos de 8 de janeiro, ele diz que chegou à Esplanada dos Ministérios por volta das 17h e que não invadiu nenhum prédio.

Também negou as acusações de ter fornecido alimentação, banheiros químicos e barracas para o acampamento, e a contratação de um trio elétrico para acompanhar as manifestações.

O suspeito é um dos donos da rede Melhor Atacadista, que conta com 8 unidades no Distrito Federal e entorno. A empresa diz, em seu site, que oferece preços baixos e grande variedade de produtos. Ele também é sócio de outras três empresas: Garra Food Solutions, Canal Distribuição e Marcas Premium. Joveci nega que as empresas tenham sido usadas no financiamento de atividades golpistas.

Adauto Lucio de Mesquita

A partir de vídeos que o mostram no acampamento bolsonarista de Brasília, Adauto Lucio de Mesquita passou a ser investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal e, em maio do ano passado, também prestou seu depoimento à CPI dos Atos Golpistas da Câmara Legislativa do DF. Ele é suspeito de financiar e coordenar a arrecadação de doações ao movimento bolsonarista.

Em 2 de janeiro ele esteve no acampamento e postou um vídeo do local. “É uma multidão, tem que ver para crer. É gente demais. Tem até lá no Eixo Monumental e toda hora chegando gente. É gente demais, viu. Vem pra cá. Não perde a vez, não, vem participar”, disse o empresário.

Num segundo vídeo ele mostrou o trio elétrico usado nas manifestações: “É o maior do Brasil. Uma carreta. É para barulhar muito”.

Adauto Lucio de Mesquita em um dos vídeos que gravou no acampamento. Reprodução

Recaem sobre Adauto as suspeitas de transferir dinheiro para contas bancárias ligadas aos golpistas, e o pagamento de transporte dos militantes até a Esplanada dos Ministérios em 8 de janeiro. À época da convocação para a CPI seus advogados alegaram que o empresário jamais financiou qualquer movimento antidemocrático.

À CPI ele admitiu ter feito “três pequenas doações”, de R$ 100, R$ 110 e R$ 1 mil, aos bolsonaristas acampados em Brasília. Ainda detalhou que a doação de 110 reais foi feita a uma idosa que estava desesperada com o desmonte do acampamento e pedia dinheiro pois seu aluguel venceria naquela data.

Adauto também admitiu ter doado R$ 10 mil para a campanha à reeleição de Jair Bolsonaro (PL) em 2022 mas negou ter sido um dos coordenadores do acampamento. Ao lado de Joveci, ele também é um dos donos do Melhor Atacadista. Mas não é só. Também é proprietário de 21 propriedades rurais nas cidades de Planaltina, Niquelândia e Luziânia, todas em Goiás.

“Se eu sonhasse, imaginasse que fosse chegar nesse ponto dessa exposição e sofrimento, eu não teria ido e participado. Me arrependo, sim”, declarou à CPI em maio de 2023



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