Jair Bolsonaro fora do caminho é ótimo para Tarcísio de Freitas, se for hábil. Família Bolsonaro é hoje o principal obstáculo para os movimentos políticos do governador
Em meio à turbulência política que tomou conta do Brasil nas últimas semanas, a decisão do ministro Alexandre de Moraes de impor o uso de tornozeleira eletrônica a Jair Bolsonaro e adotar outras medidas restritivas acendeu debates intensos, tanto entre opositores quanto dentro da própria base bolsonarista. Mas, mais do que comemorações de um lado e revolta do outro, é essencial enxergarmos quem realmente pode tirar proveito desse novo tabuleiro: o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
1. O cenário atual: Bolsonaro na mira
A queda de prestígio de Bolsonaro, simbolizada pelo mau momento jurídico e político, abala a coesão de seu grupo. A fúria das redes de esquerda celebra cada revés do ex-presidente, mas esse jogo de vai-e-vem também amplia a percepção de que o bolsonarismo radical, hoje liderado nos bastidores pelo deputado Eduardo Bolsonaro, está fragilizado. Esse vácuo de liderança cria um “efeito carrossel”: cada medida punitiva contra Bolsonaro fortalece momentaneamente Lula, que aproveita para se apresentar como o adversário a ser batido – e, de quebra, ainda reforça seu discurso anti-radicalismos.
2. Tarcísio: o nome que surge no empate técnico
Pesquisas recentes demonstram que, num eventual segundo turno, Tarcísio e Lula permanecem tecnicamente empatados. Isso significa que, com Bolsonaro enfraquecido ou mesmo afastado, cabe a Tarcísio ocupar o espaço à direita do espectro político. Mas, para isso, será preciso habilidade política: não basta torcer para que o capitão fique fora do jogo, é preciso se posicionar de maneira estratégica.
3. O “pedágio” da solidariedade calculada
Para conquistar os eleitores que resistem a um candidato aberto ao lulismo, Tarcísio precisará cumprir um “pedágio”: manifestar solidariedade ao drama de Bolsonaro – sem, contudo, parecer subserviente ao radicalismo. Se agir com muita timidez, o bolsonarismo raiz (hoje em grande parte exilado virtualmente nos EUA sob a batuta de Eduardo 03) o verá como traidor; se for excessivamente enfático, correrá o risco de afastar o mercado financeiro, empresários e setores do Centrão, imprescindíveis para viabilizar sua candidatura.
4. O cálculo do Centrão e do mercado
Aliados em Brasília já perceberam que Bolsonaro, mais do que um político carismático, se tornou um problema para a estabilidade política e econômica do País. Sua proximidade às ideias de Trump, sobretudo em matéria de tarifas e crise comercial, alarma investidores e grandes indústrias. Lula, de certa forma, tira proveito desse desdém pelo pragmatismo: no pronunciamento em rede da última noite, o presidente fez questão de escolher Bolsonaro como alvo, pintando-o como “inimigo da pátria” e reforçando a narrativa de combater o “radicalismo” em nome do progresso.
5. A agenda de gestor
Tarcísio não parte do zero: ex-diretor do DNIT no governo Dilma, construiu reputação de gestor eficaz, acostumado a lidar com grandes obras e prazos. Esse background pode ajudá‑lo a se desvincular do bolsonarismo, ao se apresentar como um técnico focado em resultados, capaz de dialogar com o empresariado e a classe média. No entanto, esse discurso de “gestor acima da política” só se sustenta se, ao mesmo tempo, conseguir atrair o núcleo duro dos eleitores conservadores, ainda apaixonados pela figura de Bolsonaro.
6. O dilema do bolsonarismo raiz
A ala mais radical do movimento enfrenta um dilema: se quer resgatar Bolsonaro da cadeia (ou, ao menos, reduzir seu isolamento), precisará negociar com o STF e a cúpula do Centrão – admite-se, já hoje, que o Supremo tem agenda política. Mas a porta de entrada para esse acordo pode exigir concessões dolorosas: abrir mão da intransigência e apoiar um candidato mais “afável” ao centro. Seria Tarcísio esse nome? Apenas se conseguir convencer seu eleitorado de que sua gestão não trairá as bandeiras conservadoras.
7. Cenário futuro: alianças e riscos
Caso o bolsonarismo radical opte por migrar votos para Tarcísio, o governador pode descansar mais tranquilo, mas a aliança terá custos: risco de ruir junto com as oscilações de opinião da base, instável e apaixonada. Se, por outro lado, os radicais se esquivarem, Tarcísio terá de compensar esses votos com o apoio de centristas e independentes, buscando o velho truque de “joão-sem-braço” que atraia medrosos da polarização.
8. E Lula, o beneficiário indireto
Sem Bolsonaro no centro do embate, Lula ganha espaço para retratar a eleição como “entre a experiência e o radicalismo”, tentando fundir a imagem de Tarcísio à do “radicalismo arrivista” do bolsonarismo. Será crucial, então, que Tarcísio dissemine uma imagem própria, destituída do estigma de “capitão” e atraente para eleitores que desejam segurança institucional.
Conclusão
A prisão domiciliar de Bolsonaro não garante vitória automática a Tarcísio de Freitas, mas abre uma janela de oportunidade. Ganhar esse jogo exige que o governador equilibre solidariedade calculada ao ícone de sua base com discurso profissional de gestor. Em Brasília, o Centrão e o mercado já se mexem para encontrar o candidato “menos pior”. Se Tarcísio for hábil, pode ser ele; se não, corre o risco de ver Lula reeditar o triunfo de 2022 – agora, com menos traumas e mais estabilidade.
Quem vencerá esse tabuleiro político? A resposta está na capacidade de Tarcísio de traduzir tensões em alianças ― e de se desvincular da memória conturbada do capitão que moveu multidões, mas também catalisou crises sem fim.
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