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Como os complexos da Penha e do Alemão se tornaram o ‘QG de treinamento’ nacional do Comando Vermelho

 

De acordo com o secretário de Polícia Civil do Rio, Felipe Curi, o local serve para o treinamento de táticas de guerrilha e cooptação de homens





O secretário de Polícia Civil do Rio de Janeiro, Felipe Curi, afirmou, nesta sexta-feira, 31, em coletiva de imprensa, que os complexos da Penha e do Alemão, localizados na Zona Norte do Rio de Janeiro, tornaram-se o QG (quartel-general) nacional de treinamento do Comando Vermelho. Em novo balanço sobre a megaoperação realizada há três dias na região, a cúpula de segurança informou que 99 dos 117 mortos já teriam sido identificados e que 40 seriam de outros estados.

“Os complexos da Penha e do Alemão, até aquela retomada, a ocupação que houve em 2010, eram o QG do Comando Vermelho apenas aqui, no estado do Rio de Janeiro. Essa constatação de hoje mostra que os Complexos da Penha e do Alemão passaram a ser o QG do Comando Vermelho em nível nacional”, declarou Curi.

De acordo com o secretário, são desses locais que partem todas as ordens, decisões e diretrizes da facção para todos o Brasil. “A investigação e os dados de inteligência comprovam que são nos complexos da Penha e do Alemão que são feitos treinamentos de tiro, tática de guerrilha, manuseio de armamento e cooptação desses marginais, que vem de fora do estado, para serem ‘formados aqui’, e depois retornarem aos seus estados de origem para implementação da cultura da facção”, afirmou o secretário.

Ainda de acordo com a cúpula de segurança, dos 113 presos na ação policial de terça-feira, 28, um terço seria de fora do Rio.

Localização estratégica

Entre os fatores que colocam os complexos em posição central para a facção, estão a localização na Zona Norte, muito próxima de duas importantes vias expressas da capital fluminense: a Linha Vermelha e a Avenida Brasil. Hoje, a região reúne 26 favelas, onde vivem mais de 112 mil moradores, e, segundo as autoridades, é lá que seriam realizados o recebimento e escoamento de armas e drogas e deslocamento de homens para diferentes áreas.

Investigações apontam que o local serve hoje como base do projeto expansionista da organização criminosa em direção à Zona Sudoeste, especialmente para Jacarepaguá. As comunidades ainda cumprem o papel de bunker para chefões do tráfico – abrigados, principalmente, na Vila Cruzeiro, na Penha – e foragidos de outros estados.

Uma grande vantagem para o crime seria a geografia de morros, vias de terra e mata fechada – características que facilitariam esconderijos, rotas de fuga e a instalação de barricadas de concreto para impedir a entrada de blindados das polícias.

Os dois complexos são considerados os mais desafiadores para a segurança do estado. “São os piores locais pela geografia, com áreas íngremes e vales. Nenhum outro lugar no Rio é tão difícil para nós”, já afirmou a VEJA o secretário estadual de Segurança Pública, Victor Santos.

Histórico de conflitos

Em 2010, as polícias Civil, Militar e Federal ocuparam o Complexo do Alemão. Na época, as cenas de fuga dos traficantes pela mata ganharam repercussão internacional. Foi neste contexto que a região recebeu o projeto de Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) e virou um símbolo de sucesso do programa.

A calmaria para os moradores durou pouco: já no ano seguinte, a população voltou a presenciar trocas de tiros, e bases policiais passaram a ser atacadas. A mega instalação do Teleférico do Alemão parada é símbolo de um futuro que ficou na promessa para os moradores.


Pesquisa: 8 em cada 10 moradores de favelas no Rio aprovam megaoperação


Levantamento AtlasIntel aponta que 87,6% dos residentes de comunidades cariocas apoiam a ação que terminou com 121 mortos



Uma pesquisa da AtlasIntel divulgada nesta sexta-feira (31) mostra que 8 em cada 10 moradores de favelas na cidade do Rio de Janeiro apoiam a megaoperação contra o Comando Vermelho feita nos complexos da Penha e do Alemão na última terça (28). A ação, que é a mais letal da história do país, terminou com 121 mortos.

Os dados mostram que 87,6% dos moradores de favelas cariocas aprovam a megaoperação, 12,1% a desaprovam e 0,3% não sabem ou não quiseram responder.

Em contrapartida, no restante da população carioca, a aprovação é de 55%, e a desaprovação alcança 40,5%, com 4,5% não sabendo responder. A disparidade sublinha uma percepção e experiência distintas entre os grupos sociais em relação à eficácia ou impacto dessas operações.

Em âmbito nacional, a aprovação entre os moradores de favelas também supera os 80%, indicando um consenso nessas comunidades


Cenário nacional reflete tendência carioca

No cenário nacional, a pesquisa aponta um forte apoio às operações nas favelas, com 80,9% dos moradores de comunidades em todo o país aprovando a ação, e 19,1% desaprovando.

Quando comparado ao restante da população brasileira, que não residem em favelas, a aprovação cai para 51,8%, enquanto a desaprovação chega a 45,4%, e 2,8% não souberam responder.

Relembre operação

megaoperação policial "Contenção" foi realizada nos complexos do Alemão e da Penha, na terça-feira (28). A ação conjunta das Polícias Civil e Militar, que utilizou cerca de 2.500 agentes, visava combater a expansão territorial do CV (Comando Vermelho) e cumprir aproximadamente 100 mandados de prisão contra lideranças, incluindo 30 de outros estados.

"Tribunal do CV": entenda como facção tortura moradores em comunidade no RJ

A operação resultou no saldo de 121 mortos, superando o Massacre do Carandiru e tornando-se a mais letal da história do país. Entre os 113 presos, estava Thiago do Nascimento Mendes, o "Belão", braço direito do líder do CV, "Doca". Foram apreendidas 118 armas, sendo 91 fuzis.


O dia da operação foi marcado por intensos confrontos e "caos" na cidade, com o fechamento de escolas e desvios de transporte público.

Diante da crise, o governo federal e estadual anunciaram a criação de um escritório conjunto para intensificar a cooperação no combate ao crime organizado.

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